quarta-feira, junho 18, 2008

O grande equalizador

Eu sempre fui a favor de provas globais, de exames, de avaliações. Iguais para todos. É a única maneira de testarmos a realidade dura e pura e pura e dura...

É um espelho terrível que finalmente revela o bom e o mau. Que destrói ilusões de grandeza que era oca, e que revela talentos escondidos por categorizações redutoras. É um grande momento de reality check.

Aconteceu hoje com o meu garoto mais novo. Na escola onde anda (e concluiu agora a quarta classe) foi sempre ofuscado pelo irmão mais velho. O "ponderado", educado, mais tímido e mais reservado. Que teve sempre mais de 90% nos testes de tudo e mais um par de botas, e quando fez os exames nacionais de aferição do ano passado obteve, "naturalmente", o máximo, A a matemática e A a português. Era indiscutivelmente o mais sensato, o mais calmo, o mais "inteligente". No quinto ano repetiu a dose, e ainda bem....

O mais novo foi sempre o "artista". O que pegava em materiais como papel, agrafos, cola, tinta, partes dos Dragons e dos Bionicles e fazia uma máscara do Predator ou do Alien (bastante realistas...) e depois recriava a "persona" numa pantomina criativa que nunca cessava de nos surpreender. Só que tinha belíssimas notas também (sempre mais de 90%...). Mas era sobretudo "engraçado", mesmo para os colegas (os pares) a imagem passava e ficava colada ao corpo. Hoje vieram as notas de aferição. Foi o único a ter A a português e A a matemática.

Os professores, os auxiliares, a governanta, os colegas hoje pareciam ter descoberto uma nova criatura. Conviveram com ele quatro anos e não "sabiam" que ele para além de pantomineiro (imbatível...) era afinal "assim", "como o irmão"....

Abençoado exame, que hoje parece ter feito sobretudo uma vítima. É que o meu filho mais novo agora acredita, também ele, que afinal é um belíssimo aluno, e não só um "artista"....

quinta-feira, junho 05, 2008

Banco

recebi um simpático telefonema a informar-me convidar-me pressionar-me (push do marketing....) que um dos bancos onde tenho conta organiza um road show com produtos que vende.....

são ecrãs de plasma, computadores, hi-fi, vestidos Versace (OK esta é inventada por mim...) ..... o "evento" decorre num hotel de Lisboa e, claro está, pretende vender dinheiro a crédito para que compremos aqueles bens sem os quais a nossa vida ficará vazia de sentido teleológico.

Eu fui um bocado ríspido com a senhor/menina que me telefonou e provavelmente se encontra em contrato a prazo com renovação dependente do grau de "desempenho" nesta actividade de telemarketing de promotora da tupperware... eu quase que aposto que o director de marketing autor do "stream" comercial não é capaz de fazer as cold calls.....

mas já vai minguando a paciência para esta pressão constante e obsessiva para que nos reduzamos a consumidores de qualquer merda desde estejamos sempre numa posição de dever dinheiro por compras anteriores e em vias de comprar mais qualquer coisa....


suponho que a menina senhora que fez a chamada tem uma licenciatura em qualquer coisa menos na expectativa de ter de vender sabonárias ao telefone e levar desaforo de clientes irritados e sem orçamento para fazer face às expectativas dos filhos mais ao preço da gazolina e ao juro do empréstimo.... mas deve ser desta precariedade que a senhor lider do partido da oposição falava com alegria e optimismo...

quarta-feira, junho 04, 2008

A sociedade desvinculada

recentemente uma lider de um partido político fazia uma notável descoberta. A de que tudo era precário pelo que a própria noção de precariedade estava sem sentido. Palavras sábias de alguém que já tem segurança suficiente para se colocar a salvo da incerteza que de sorriso na face constata para os outros. Os mais novos. Que em face de não existirem vínculos podem limitar-se a existir no presente sem calcular o futuro. A lider deve continuar a sorrir.