sexta-feira, janeiro 08, 2010

faltam quinze minutos

e já há gente com o olhar vazio, os sacos e mochilas arrumadas, o cérebro desligado, o enfando evidente. Entraram dez minutos mais tarde. Pelo meio, um tipo esbraceja, provoca, estimula, conta histórias e estórias, apresenta argumentos e contra argumentos, mostra alguns das dezenas de slides que preparou para serem apelativos, informativos, rigorosos, sumarentos. Utilizam-se todas as técnicas retóricas e comunicacionais possíveis. Pausas dramáticas. Anedotas. Olhares inquisidores. Dilemas. Paradoxos. Ensaiam-se reportórios inteiros de expressões facias. Introduzem-se limites novos na linguagem corporal e na relação com o espaço circundante. Faz-se, portanto, trinta por uma linha.

Para quê? Mais valia ter posto a circular um papel para saber quem é que quer apenas outro pedaço de papel que certifique as "competências" adquiridas. O conhecimento é uma maçada. A vida não está para curiosidades intelectuais. Estamos todos a caminhar em direcção a lado nenhum. Estamos todos desorientados embora afivelemos um ar sério, composto seguro e sensato. Participamos todos neste extraordinário processo de fingimento e de construção de uma realidade virtual em papel de cenário que se desfaz ao primeiro sopro de uma leve brisa. E certificamo-nos mutuamente.E melhoramos continua e determinadamente a utilização do papel de cenário. Alguns excedem-se na mestria do cenário propriamente dito. Mas isto tudo é cansativo.