segunda-feira, setembro 27, 2010

O mundo fascinante da Justiça

Hoje deveria ter testemunhado num processo de difamação. Ou crime sinónimo, que eu sou iletrado em matérias conexas com o código penal. Uma velhacariazita cometida por um ser com a valia de um coliforme fecal, mas adiante...

A coisa decorreria no novíssimo campus da Justiça da Expo. Começou com uma experiência que não contava que era a da "revista" e detecção de metais, o que motivava uma fila considerável, pelos visto nem eu nem os outros participantes que se distribuiriam pelos diversos andares do edifício. Da próxima vez vou procurar chegar de véspera porque existia um segurança para revistar sacos e passar o detector de metais. Isso, e um convívio inesperado com diversos extractos sociais. Alguns dos presentes na fila tinham um ar de quem estariam no sítio certo até por antecipação...

Debelado o primeiro obstáculo, tomado o elevador chega-se a um átrio onde várias "oficiais de diligências" (será assim que se denominam as pessoas que se certificam que arguidos e testemunhas e demandantes e demandados estão presentes?) berravam nomes de pessoas com ar aborrecido porque os advogados(as) assinalavam a presença das pessoas na fila "lá em baixo". Quiçá, na convocatória se pudesse, à semelhança do jejum para as análises, referenciar a necessidade de vir uma horas antes. Havia duas salas de audiência pelo que, confesso, desenvolvi alguma estranheza pelo número de processos referenciados no prefixo das "chamadas". Pareciam-me processos a mais para alocar em dois espaços a não ser que a justiça portuguesa funcionasse em multiverso ou em regime mais prosaico de time-sharing. Indicaram-nos uma sala para esperar e ficámos a saber que havia "overbooking"... para a mesma sala existiam três "julgamentos e uma sentença" tudo das 14 às 17! Isto parece ser um procedimento de investigação operacional que visa uma espécie de minimax... se faltarem num julgamento avançam logo mais uma meia dúzia deles e a utilização da capacidade infra-estrutural é sempre máxima...

A maçada é que se o nosso é rateado para último e nos outros ninguém faltar, o nosso não se realiza. E, portanto fica logo remarcado ou então fica adiado sine die. Ou coisa parecida que como isto é sobre Justiça seria grosseria não meter um latinório algures pelo meio....  Foi o nosso caso. Três horas depois fomos convidados a regressar um dia destes. Fora um político a comunicar teria dito "quando for adequado"....

Enfim, uma dezena de pessoas deixaram de criar valor para o accionista, nem para si próprios, e nada avançou no bendito processo. Um dia interessante e uma experiência que engrandeceu qualquer coisa mas que agora não me ocorre...

o mundo fascinante das pessoas que existem e ocupam dimensões do espaço tempo

Confesso que por vezes fico fascinado com as noticias de alguns jornais e revistas e onlines. Presumo que tais noticias interessam sobremaneira a muita gente, senão seria incompreensível a "economia" dos títulos. A encriptação dos títulos revela que os códigos são partilhados por muita gente. "Fulano diverte-se no Manta Beach". "Cícrana pretende voltar a apaixonar-se". "Beltrana foi vista com um novo acompanhante".

Nas mais das vezes (para não dizer quase todas) não faço a mínima ideia sobre quem são e o que fazem estas personagens. Presumo que ou são apresentadores de televisão (um conceito lato que compreende toda a sorte de idiotices e exibições boçais de ignorância em estado bruto) ou "actores" de novelas ou gente que gravita à volta dos programas em que a miudagem exibe a aspiração, legítima, de ser apenas famoso e existir no espaço e tempo sem mais nenhuma exigência de participação social.

Mas parece existir uma legitimidade conferida pela legião de admiradores e consumidores do merchandising anexo a tais personagens. Que alguém fique satisfeito por saber que fulano foi à disneyland de Paris é uma prova que o Darwin não tinha razão. Houve um inflexão, a derivada é negativa e, em breve, só existirão seres cujo cérebro mirrou.