quarta-feira, junho 15, 2011

A Capitulação do Estado (a que isto tudo chegou)

"Lisboa, 15 jun (Lusa) -- Um copianço generalizado num teste do curso de auditores de Justiça do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) levou à anulação do teste, mas a direção decidiu atribuir nota positiva (10) a todos os futuros magistrados.
Num despacho datado de 01 de junho e assinado pela diretora do CEJ, a desembargadora Ana Luísa Geraldes, a que a agência Lusa teve acesso, é referido que na correção do teste de Investigação Criminal e Gestão do Inquérito (ICGI) "verificou-se a existência de respostas coincidentes em vários grupos" de alunos da mesma sala.
O documento indica que, em alguns grupos, "a esmagadora maioria dos testes" tinha "muitas respostas parecidas ou mesmo iguais", constatando-se que todos os alunos erraram em certas questões.
No despacho é dito que as perguntas erradas nem eram as mais difíceis do teste, tendo-se verificado também o inverso: numa das questões mais difíceis ninguém falhou.
Realça ainda que há pessoas sentadas umas ao lado das outras que têm "testes exatamente iguais, repetindo entre elas os erros que fizeram".
Perante o copianço da turma, a direção do CEJ decidiu, em reunião, "anular o teste em causa, atribuindo a todos os auditores de Justiça a classificação final de 10 valores" em Investigação Criminal e Gestão do Inquérito.
Desta decisão foi dado conhecimento aos diretores adjuntos do CEJ, ao coordenador da Área Penal e restantes docentes e à Secção Pedagógica.
"


A pergunta que se impõe Senhor Presidente da República é se o senhor vai intervir e garantir que o regular funcionamento das instituições não seja confundido com o funcionamento dos esgotos da zona da Sé?

Porque se esta gente não é liminarmente expulsa da magistratura então somos livres de concluir que vale a pena a trafulhice, afinal o fax domingueiro é um método aceitável e mais, que na Justiça, o último e derradeiro bastião e pilar da democracia a dissolução da ética é uma realidade perante a qual podemos encolher os ombros. Perante isto se ninguém fizer nada, ninguém tem moral para adjectivar o comportamento de ninguém. Entramos na terra do vale tudo. É um casino.


ps: naturalmente a direcção desta charada e quem "despachou" a coisa deverá ser higienicamente despachada para longe!

segunda-feira, junho 06, 2011

a banalização da grandiloquência e a fé cega na arrogância da ciência

vem isto marginalmente a propósito de uma coisa que recebi que me faz participante voluntário ou involuntário, é irrelevante, num processo de "Criar profissionais Globais." através da minha contribuição "para o desenvolvimento da sociedade global através da preparação dos seus estudantes, promovendo uma atitude empreendedora baseada nos princípios da responsabilidade social, excelência na investigação e empregabilidade."

Este tipo de designios grandiosos é supostamente um mecanismo de mobilização das energias e de focalização de grupos humanos que remarão decididamente para o mesmo lado concretizando o desígnio. Mas este discurso ou esta autêntica narrativa pós moderna e científica rapidamente nos transporta para um mundo em que depositamos um fé arrogante, em certo sentido fantasiosa, na capacidade da ciência e da tecnologia para resolverem os problemas que criámos justamente por acreditar que a ciência e a tecnologia tudo resolvem.

Durante as décadas de 90 e início de 2000 existiram surtos de e.coli que mataram crianças nos EUA. Nos hamburgueres. Depois a carne passou a ser bombardeada com amoniaco para que as bactérias (e que mais?) morressem. Vê-se isso no filme Food Inc. A ciência e a tecnologia criaram uma indústria de comida barata que permite alimentar trabalhadores baratos para empregos que pagam pouco. Competitivos portanto. Aquilo que precisamos de ser. A ciência e a tecnologia resolveram o problema da contaminação da carne. Entretanto deu-se nos EUA nos espinafres. Nas alfaces. Agora na Alemanha nem sequer se sabe onde. Mas a ciência e a tecnologia por certo resolverão. Entretanto morreram trinta pessoas. And counting.

O problema de alimentar populações cada vez maiores com recurso a métodos de produção em massa levou-nos à manipulação genética de várias coisas como animais e sementes. Parecia que conseguíamos controlar tudo. Afinal não. Subsiste o problema de alimentar muita gente a preços razoáveis. Mas talvez seja altura de questionar o limite do nosso delírio. Ao fim ao cabo já não estamos a nutrir seres humanos. Estamos a produzir obesos em regime industrial. A coisa é boa para a indústria do "wellness" e do "emagrecimento" e finalmente para a farmacêutica. Será boa para nós?