segunda-feira, setembro 10, 2012

O algoritmo de compressão

Nesta questão toda da pseudo crise, em que somos fustigados pela inépcia e cumplicidade canhestra e eventualmente involuntária dos políticos, ao serviço de uma política que já só serve o capitalismo financeiro de meia dúzia, o que mais me impressiona é o coro de vozes que acham que temos de penar estas penas porque "vivemos acima das nossas possibilidades". Há aqui uma assunção de uma culpa quase bíblica. Fomos marcados por essa culpa difusa de um pecado que já ninguém sabe qual foi mas que parece subcutâneo! É um argumento tipo bomba de neutrões. Da direita a alguma esquerda todos utilizam este argumento como se nem sequer de demonstração carecesse. É um verdadeiro axioma. E, basta a sua menção para uma grande parte do povoléu se calar embaraçado, com pudor e vergonha ela própria envergonhada. Activada esta culpa primordial, Pimba!Ao fim ao cabo "todos" fomos aos bancos pedir crédito para férias em Porto Galinha, "todos" andámos a trocar de carros e de casas de mobílias de arquitectos à conta de uma verdadeira luxúria credíticia. Uma lascívia de consumo sem limites. Os políticos, "coitados, foram apenas na mesma onda que de resto nos varreu a "todos".Perdão. Eu nunca consumi o que não era meu. Mas mesmo que tivesse caído em tentação porque é que agora haveria de me envergonhar? Em boa verdade quer tivéssemos ou não consumido a riqueza a criar nos próximos seis séculos, individual ou colectivamente, na realidade assumimos um ar constrito e absorvemos uma "postura" de grande embaraço e cedemos ao calvinismo nórdico que nos aponta os dedos ameaçador e reprovador. Tudo é merecido, tudo é para suportar. Ora há aqui falácias terríveis. A primeira, é a de que o interesse neste consumo imoderado foi de certo capitalismo financeiro inebriado com teorias de crescimento infinito que a certa altura já incapaz de gerar valor a partir de realidades palpáveis se pôs a "inovar" e a inventar formas de criar dívida a partir do que "haverá de ser"! E, quando nos pomos a especular e imaginar sobre o futuro bom... não há limites não é verdade. Podemos vender opções sobre a produção futura de bananas na Guatemala em 3056! E, existindo dúvida legítima sobre essa produção podemos vender "seguros de crédito" sobre a dívida contraída para comprar tamanho delírio. Como o próprio capitalismo financeiro "subprime" sabia que isto era um manhoso castelo de cartas tratou de refinar estas verdadeiras artimanhas de conto de vigário sob formas pseudo matemáticas e mascaradas de "sofisticação" misturando dívida irrecuperável com dívida legítima e criando acrónimos que iludiram, justa e deliciosamente os alegados "especialistas". Ora chegado a um ponto em que alguém perguntou quanto do crédito total poderia imediatamente ser liquidado sobre valores ficcionados (no caso sobre as hipotecas nos Estados Unidos) a coisa descambou. Os bancos dada a sua natureza (de nunca poderem ter o valor dos depósitos em cada momento disponível para saque) habituados a correrem riscos em demasia a que as "autoridades reguladoras fizeram cumplicemente vista larga, afundaram-se. E, ordenaram aos políticos que afectassem os dinheiros dos contribuintes em seu benefício de modo directo e sem disfarces. No meio deste descalabro saíram triunfadores bancos ingénuos e bancos deliberadamente desonestos. Depois, a falácia genial, em face da contracção de dívida pública a níveis inusitados para ser aplicada nestas operações de salvação dos merdas que nos lixaram, os merdas ficaram "alarmados" com o nível de dívida pública necessária para os salvar. E compères do sistema resolveram "notar" o alarme dos facínoras. Aumentaram o "alarme" e ... Disseram-nos que somos nós os causadores da aflição porque elegemos os políticos seus amigos. Formidável não? O espantoso é que basta a enunciação das palavras "todos fomos beneficiados" "todos vivemos acima das nossas possibilidades" "todos andámos a viver à tripa forra" para que a esmagadora maioria de nós se tenha deixado anestesiar pela conversa mole e cínica destes políticos de treta que nos afogam em demagogia e cobardia ... E se recolha à placidez do lar para aí resmungar com receio de ser ouvido pelo vizinho... Somos afinal o quê? Eu por mim não pedi nada. Eu por mim não me endividei para além do que ganho. Eu por mim não deixei de criar riqueza. Eu por mim não suporto mais estas medidas. Eu por mim não quero "oferecer" mais o meu esforço aos chupistas que se riem de nós. Eu por mim não compreendo como é que vocês se sentem culpados...

1 comentário:

Animal disse...

somos católicos pá. um católico sem culpa é como um dizáiner sem um mac.