segunda-feira, julho 29, 2013

do uso do cérebro

Uma das coisas engraçadas no livros dos focinhos é a velocidade com que a malta prega no mural (ou timeline se não quisermos brincar aos pobrezinhos...) um pedaço de bons conselhos de origem duvidosa e minutos depois o simétrico ... ou uma indignação qualquer e a sua negação com igual velocidade e ligeireza.


Por exemplo, muita malta publica coisas sobre as quais acha que pendem características de escandaleira ou injustiça ou corrupção ou miséria humana inexplicável ... (muitas vezes sem cuidado de auscultar da verdade da coisa) mas logo de seguida publicam um daqueles conselhos cor-de-rosa choque de optimismo gerador de culpabilização em todas as directions...

tipo: vejam bem este exemplo de sofrimento sem remissão e sem nome (uma pessoa sem  braços e sem pernas que não ouve nem vê e que foi abandonada aos seis meses e que esteve enjaulada até anteontem...) e que exibe esperança ...  como se a esperança tivesse algum ponto de referência e só fosse expectável que alguém tivesse esperança se reunisse determinadas circunstâncias e características...

Com este tipo de posts parecem desejar gerar uma culpa e vergonha naqueles que tentam ou pretendem mudar o mundo sem exibir sempre um sorriso e que de vez em quando se zangam... ou que reclamam (e muitas vezes por motivos pueris e com terceiros quando a solução se encontra ao alcance do esforço próprio)

ora gente... não há nenhuma correlação entre direito à crítica e à indignação e a situação particular de ninguém. Para se reclamar por um mundo mais aceitável, mais limpo, mais culto, mais educado, mais justo, mais equitativo, mais racional não há uma espécie de pré requisito de ponto de partida... nem, por um lado, de ter de se estar numa escala inenarrável de sofrimento nem de se ser titular de nenhuma posição de combatente diplomado em mil batalhas desde do útero da mãe...

Não se tem mais razão numa reclamação por se ser um espoliado do último grau... nem se tem menos razão porque se chegou ao combate ontem ...

Não há qualquer proporcionalidade entre as circunstâncias particulares de cada um e os princípios que são feridos ou violados ...

Opor as pessoas que se queixam da vida a outras que nada tem e (aparentemente) vêem a vida fluir com um fluxo interminável de "positividades" para apoucar os primeiros será popular entre aqueles que donos do destino de milhões querem impor a todos a ideia (pouco verdadeira) de que o destino se encontra apenas nas mãos daquele que o pode escrever se for tenaz e "acreditar" com todas as forças...

Cuidado! Não sejam os idiotas úteis da propaganda, nem dos que exploram a ideia de que só os preguiçosos estão desempregados nem dos que se locupetam com regimes a "garantir" emprego a todos sem esforço individual dos que querem emprego ou que querem melhorar a sua situação...


em todo o momento é aconselhável a utilização de sistema nervosos central ...

Senão ainda dão por vós a fazer afirmações totalmente falsas e idiotas como: "se as pessoas pensarem positivo e acreditarem convictamente consegue alterar a bioquímica e reverter o cancro"...  ou se "desejarmos realmente e com "força" acaba por acontecer o que desejamos..."

Há que distinguir a visão do mérito do esforço individual da criação colectiva de condições para que todos possam ter melhores pontos de partida mas há que distinguir a ciência da magia e da dellusion... 

segunda-feira, julho 22, 2013

A livraria

Com o fecho das livrarias há um mundo que desaparece. Um mundo de rituais. O não menor dos quais, para mim, era cheirar o livro antes de o comprar. Eram um mundo sem pressas. Com personagens. Como o Santos da Livraria Portugal. Um mundo de pouco barulho e que se saboreava e celebrava a palavra,  a densidade da personagem, a força telúrica de certas páginas em que se descrevia um pequeno quarto ou uma charneca exangue, a reviravolta desarmante na trama ...

Os tablets não me parece que substituam os livros, provavelmente não os farão desaparecer.
Mas o que temo realmente é que com a morte das livrarias se anuncie com pompa e circunstância a  doença crónica da falta de leitura ...  ou a sua substituição pela actividade de "passar os olhos" por essas "obras" que se compram para um voo  ou em promoções do Continente anunciadas pela Rebelo Pinto como oportunidades de adquirir o "último "livro" dela ou de outros grandes escritores..."... bailhamedeuze que me ocorreu logo um conceito mas não era associado à actividade da escrita...

E a prazo ... o colapso (que já se vislumbra) do pensamento ... o advento de um mundo de imbecis consumidores de verdades pré-fabricadas pré-embaladas que é só levar ao micro-ondas e que não impede o consumo simultâneo de notícias sobre quem é que aumentou as mamas ou quem é que vai animar as noites do Algarve...