sábado, setembro 29, 2007

projecto educativo

aqui há uns tempos dei-me ao trabalho de ver leis e estatutos do ensino. Descobri que a palavra instrução era maldita. Que a palavra ensinar também não era grande coisa. Que disciplina ou o acto de disciplinar eram malditos, que aprender era um processo complicadissimo.....

Ontem participei pela primeira vez numa reunião de encarregados de educação na escola EBD+S2+3+ES+PL+EP ou coisa parecida...

Eram os pais dos miúdos do 5 ano que pela primeira vez estão na escola secundária de carcavelos. A dada altura porque houve uns qui pro quo entre um dos garotos de dez anos e outros de treze (os calmeirões a quem estão a rebentar as borbulhas e se estão a acomodar a outros fluidos...) e porque os de dez anos já descobriram que se podem baldar da fila da cantina e ir ao bar comprar cachorros e pizzas, e porque há um muro de onde podem cair dois metros, um dos pais, que já levava uma listagem de crianças com nomes números e origens anteriores para recolher emails e telefones dos outros pais por via de esperar ser eleito o representanto dos encarregados de educação daquela turma.... um aprendiz de político portanto (que naturalmente acabou eleito para se representar a si próprio no que bem entender...), inquiriu se poderiam os pais assistir aos almoços. Dado o adiantado da hora e porque o meu cérebro já tinha desligado imaginei logo este voluntarismo a causar uma desnecessária dose de sofrimento psicológico e físico ao filho dele.... levando umas rodas de calduços ou outras coisas ainda mais humilhantes e dolorosas....

É fabuloso como os pais e mães não se recordam como era quando andavam por ali.... e como era humilhante e embrarçoso ter a famelga no espaço em que agente circulava com os amigos....

Depois fiquei a saber que no processo de avaliação, o "saber estar", os tpc's, os trabalhos adicionais e voluntários (como colorir os distritos de Portugal em três cores diferentes...), as fichas dos livros principais, as fichas dos livros adicionais, as fichas fotocopiadas na escola contam mais que os testes....

Como se trata do futuro dos meus estou a aprender a exercer o direito de tar calado... tava com vontade de dizer que no décimo segundo tem um exame que conta tudo para seguir em frente sem ser para engenharia do turismo rural nas Berlengas na Universidade Independente mas calei-me, sem dizer também que "saber estar" devia ser o mínimo exigível e que contar trinta por cento para a nota final só porque não guincham como macacos não cospem no chão como o resto dos tugas não os ajudará quando tiverem de disputar empregos com engenheiros de Bengala ou de outro sítio qualquer na India ou na China que preenchem desde há vinte anos todas as vagas do mestrado de matemática de Harvard e as vagas dos odutoramentos em Economia de Stanford..... mas resolvi aconselhar o meu a portar-se bem nas aulas e fazer todos os trabalhos idiotas ou inteligentes que lhe apareçam pela frente com o irreparável argumento que ele, tal como o pai e o avô e o bisavô e os demais concidadãos tem acesso normal a idiotas e imbecis tal como às moscas.....

Entretanto outro episódio interessante tinha sido o da funcionária responsável pelos balneários do ginásio que tinha arrancado miúdas dos chuveiros onde algumas delas se tinham juntado aos pares para pouparem tempo no duche a seguir à ginástica e chegarema tempo ou à fila de almoço ou à próxima aula.... esta briosa funcionária terá berrado com as miúdas de dez anos e dado uns encontrões e puxões às miúdas acusando-as de coisas que as miúdas não conseguiram compreender bem mas que as deixou aterradas.... apreendeu os cartões das miúdas e entregou-os à directora de turma...

Aparentemente a mulher vê lésbicas em todo o lado, possuirá a missão na Terra de impedir mais a proliferação dessa maldição... pior, parece que nunca existiu semelhante regra que impedisse os miúdos de tomarem banho aos pares aos magotes ou sózinhos....

Ilustrativo do que é o funcionalismo público ainda entre nós, é que a cara da directora de turma espelhava bastante indignação com isto, mas uma certa dose de impotência conformada sobre o que se deveria fazer à senhora funcionária, ignorando se o conselho executivo tinha tomado alguma iniciativa como falar com a mulher e dizer-lhe que crianças de dez anos não são já totalmente experientes nos domínios da volúpia e da depravação moral que ela parece temer e que a acção dela pode causar mais mal que bem ao seu Santo Graal.... ou quem sabe, não perdendo tanto tempo mandar dois berros à mulher.... mas não....dá para entender que a mulher está lá desde a fundação da escola e que os professores pelo contrário estão mais numa plataforma giratória e logística de distribuição pelo que ela vai lá ficar....

enfim, mais uns avisos porque aprareceram piolhos no oitavo ano, já há horários de oficinas, os pais devem escrever na caderneta as alergias e os problemas auditivos e a coisa passou mais ou menos sem que o Rousseau se sentisse desafiado ....

segunda-feira, setembro 17, 2007

O ritual

de autoflagelação que foi imposto hoje a um colega meu pareceu-me demasiado cruel para ser verdade. Hoje percebi o que devem ter sido os tempos da China de Mao no tempo da Revolução Cultural. Não se faz aquilo a uma pessoa com sessenta e cinco anos. Inacreditável. O que poderá legitimar uma aleivosia daquelas? Um dia talvez consiga entender o que será a puta da compaixão para um que tem sempre na boca a beatitude de um catolicismo que deve ser de uma versão anterior ao Velho Testamento.

quinta-feira, setembro 13, 2007

De facto

na hora da separação, confesso que com alguma acrimónia, agastado e desencantado, fico perplexo com o que se vai passando na Instituição onde exerci durante nove anos, o melhor que soube e pude, funções de docente, embora aparentemente com algum mérito.....

Mas fico sobretudo atarantado com o facto de na única instituição, que conheço a nível do globo todo, onde o decisor máximo (senão único) tem mais de noventa anos!!! e, em face de decisões já incompreensíveis e inverosímeis, todos os demais decisores ou "responsáveis" fingirem que nada se passa, que não é nada com eles. Que no meio do faz de conta o dinheirinho ao fim do mês não lhes falte.

Eu é que confesso, a uns dias de comemorar o aniversário do meu enfarte....., prefiro não arriscar outro....