Esta é uma das conclusões
habituais das interacções no Twitter. Com esta sentença põe-se termo a trocas
de insultos, sequências de falácias ad
hominem e outras atribulações da retórica contemporânea para pessoas
apressadas e que pré-classificaram os seus interlocutores virtuais como bestas
ou pior. Em geral, depois deste expletivo, o contendor retira-se vitorioso,
sublinhado a renuncia à discussão, usualmente com o outro classificado como
“porco”, “estúpido”, “facho” ou “esquerdalho”.
Prevalece uma importante
questão. Mas, qual livro?
Por enquanto não consegui
vislumbrar uma resposta adequada a este mistério. Não obstante, cresce o número
de adolescentes que se aventuram ao longo desta curiosa avenida. “Educa-te. Lê
um livro”. Uma espécie de tirocínio para mais tarde aparecerem no Linkedin como
“Life Coach”, possivelmente com base na extraordinária experiência acumulada
até à sua provecta idade de 23 anos.
As outras “trends”
estatisticamente salientes, nos “diálogos” agressivos do Twitter, são também
sintoma da pós modernidade que finalmente desagua entre nós. A desqualificação dos outros porque são
“velhos”, “boomers” ou outra forma qualquer de sublinhar que não são do tempo
dos memes, mas da pré-história é um valor firme. Sem cultura e sem
sofisticação, labregos que nunca foram em Erasmus e não sabem quem é a Minaj.
Há um confronto entre os publicadores de fotos de gatinhos no facebook e a geração que “instagrama” a sua existência
com, natural, prevalência dos portadores do futuro. A geração ainda mais
qualificada de sempre.
O outro vector popular
que prevalece e se torna quase esmagador é o do âmbito do “mansplaining”. É um
terreno divertido que faz lembrar aquele jogo do tempo inicial do DOS. O
Minesweeper. Ao fim de duas interjeições a probabilidade de um gajo
(particularmente se for branco) ser mandado calar tende para o valor esperado
da certeza. Desde que existam duas interlocutoras praticantes da modalidade,
quase tudo o que um individuo diga é sobranceiro, arrogante e desnecessário.
Todos os dias vejo pobres coitados a caírem no ardil. Espalharem-se ao
comprido. Alguns são idiotas. Explicar coisas a mulheres sobre dores menstruais
é uma óbvia patetice. Mas dai em diante a amplitude dos assuntos que são
exclusivamente femininos torna-se uma mancha de óleo que não pára de absorver
temáticas que nem na química inorgânica se detêm.
Sem surpresa o terreno do
“debate” mais clivado é o da direita e esquerda. Qualquer que seja o assunto
desde a identidade de Euler até à biomimética tudo é analisável de forma
antagónica numa perspectiva ideológica. O que nem é nada de extraordinário. Em
ciência sempre foi assim. Aliás, sempre foi assim que se avançou. O que é novo
é a introdução massiva da teoria de atribuição causal da psicologia social de
modo exuberante e mesmo efusivo. Tudo o que os “meus” digam é imediatamente
consolidado com aderência instantânea da claque. Tudo o que os “outros” afirmem
e imediatamente barrado com fogo de artilharia pesada. Não parece existir
terreno neutro ou de negociação possível. Pior, qualquer sugestão ou apelo à
tolerância ou diálogo é tratada por uns e outros como impensável e por certo o
proponente de tal aleivosia é um bufarinheiro da pior espécie sem margem para
duvida um inelutável e irremediável colaboracionista ou pior ainda.
Vivemos tempos
interessantes. Absolutos. Sem tempo, sem passado, sem futuro. Tudo parece ser
aqui e agora. Estranhamente ou talvez não, o tal livro, o que serve para educar
é frequentemente de “história”. Aparentemente no passado existiu ou aconteceu
qualquer coisa que demonstra abundantemente que “eu” tenho total e esmagadora
razão. E se “tu” tivesses lido tal obra nem estarias “aqui” a fazer-me perder
tempo com a tua ignorância.
Costumava dizer aos meus
alunos que todos os dias que se acordam deviam ver no espelho a pessoa mais
bonita e mais inteligente do planeta. Irrealista sem duvida mas necessário para
manter o ego sem colesterol ou anemia. Chegámos a um tempo em que quase toda a
gente se levanta olha ao espelho e vê a única pessoa inteligente no planeta.
Vivemos tempos
interessantes. Era uma praga que os chineses costumavam rogar aos adversários.