O Tempo é Agora e o Espaço é Aqui
A frase "o tempo é agora e o espaço é aqui" encapsula uma dinâmica central das organizações contemporâneas, sejam elas políticas ou empresariais. Esta expressão reflete uma mentalidade de imediatismo e efemeridade que permeia as estruturas organizacionais modernas, onde o passado é frequentemente desvalorizado em favor do presente e do futuro imediato. Este fenomeno tem sido amplamente discutido por sociólogos e filósofos como Richard Sennett e Zygmunt Bauman, que exploraram as implicações dessa mentalidade para a vida social, económica e política.
A Desvalorização da Memória e da História nas Organizações
Uma das características mais marcantes das organizações contemporâneas é a desvalorização da memória e da sua história. Num mundo onde o "tempo é agora", o passado é frequentemente visto como irrelevante ou até mesmo como um obstáculo ao progresso. Esta mentalidade é refletida na forma como as organizações lidam com a experiência e o conhecimento acumulado pelos seus membros e no seu seio.
Richard Sennett, no livro "A Corrosão do Caráter", argumenta que a cultura do capitalismo flexível promove uma desvalorização da experiência passada. Nas organizações modernas, o que importa é a capacidade na adaptação rápida às mudanças e de demonstrar utilidade no momento presente. O que um funcionário fez no passado, por mais significativo que tenha sido, é frequentemente esquecido ou ignorado. Isso cria uma cultura de descontinuidade, onde os laços entre o passado, o presente e o futuro são fragilizados ou quebrados.
Zygmunt Bauman, na análise da "modernidade líquida", também destaca a efemeridade e a fluidez das relações sociais e organizacionais. Nas organizações líquidas, a memória é curta e a história é constantemente reescrita para se adaptar às necessidades do presente e à "ideologia" do momento. Isso resulta numa falta de sentido de continuidade e pertença, tanto para os indivíduos como para as organizações como um todo.
A Cultura do Imediatismo e a Pressão pela Utilidade Imediata
A cultura do imediatismo nas organizações contemporâneas é caracterizada por uma pressão constante para demonstrar utilidade e valor no momento presente e no contexto. Isso cria um ambiente onde os funcionários são incentivados a focar-se em resultados imediatos, muitas vezes em detrimento de objetivos de longo prazo e do desenvolvimento de habilidades e conhecimentos mais profundos.
Nas empresas, essa pressão pela utilidade imediata manifesta-se numa série de práticas, como a avaliação constante do desempenho, a rotatividade de pessoal e o enfase em metas de curto prazo. Sendo que os próprios objectivos são fixados, frequentemente, de modo paroquial reflectindo os interesses locais e não o futuro estratégico da organização.
Essa dinâmica tem várias consequências negativas. Em primeiro lugar, desincentiva o investimento em desenvolvimento profissional e em projetos de longo prazo, que podem não render resultados imediatos. Em segundo lugar, ela cria um ambiente de trabalho altamente competitivo e gerador de burnout, os funcionários estão constantemente sob pressão para atingir resultados por vezes pouco realistas quando não inalcansáveis. Isso pode levar a altos níveis de insatisfaçãoe a uma rotatividade elevada, o que, por sua vez, prejudica a estabilidade e a coesão da organização.
A Fragilização dos Laços Sociais e a Precariedade do Trabalho
A desvalorização da memória e a (re)pressão pela utilidade imediata também contribuem para a fragilização dos laços sociais dentro das organizações. Num ambiente onde o passado é irrelevante e o futuro é incerto, os laços entre os funcionários e entre os funcionários e a organização tornam-se frágeis, transitórios e sem qualquer espécie de gratificação prisológica que entrementes é substituida por actividades ritualistas quando não hilariantes ou infantilizantes inventadas pelos departamentos de RH como sucedâneos de relações espontâneas e sinceras que se geram em ambientes de camaradagem que resulta de desafios vencidos conjuntamente.
Richard Sennett argumenta que a cultura do capitalismo flexível promove a formação de laços sociais fracos e superficiais. Nas organizações contemporâneas, os funcionários são frequentemente vistos como recursos descartáveis, que podem ser facilmente substituídos se não estiverem atendendo às necessidades imediatas da organização. Isso cria um sentimento de insegurança e precariedade entre os funcionários, que acabam desvalorizados e desmotivados acabando num estado de cinismo organizacional em que todos fazem de conta.
Zygmunt Bauman também destaca a precariedade do trabalho na modernidade líquida. Nas organizações líquidas, os empregos são frequentemente temporários e incertos, e os funcionários são constantemente forçados a ad(o)aptar novas realidades e a buscar novas oportunidades. Isso resulta em uma falta de estabilidade e segurança, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.
A fragilização dos laços sociais e a precariedade do trabalho têm várias consequências negativas para as organizações. Em primeiro lugar, prejudicam a coesão e a colaboração entre os funcionários, o que pode levar a uma diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho. Em segundo lugar, contribuem para um ambiente de trabalho competitivo e em que proliferam as pequenas deslealdades, gerando altos níveis de rotatividade e a dificuldades em reter talentos.
A Perda de Sentido e de Propósito nas Organizações
Outra consequência importante da desvalorização da memória e da história nas organizações é a perda de sentido e de propósito. Em um ambiente onde o passado é irrelevante e o futuro é incerto, os funcionários podem ter dificuldade em encontrar um sentido e um propósito em seu trabalho.
Richard Sennett argumenta que a cultura do capitalismo flexível promove a formação de identidades fragmentadas e desenraizadas. Nas organizações contemporâneas, os funcionários são frequentemente incentivados a se concentrar em tarefas específicas e em resultados imediatos, sem levar em consideração o contexto mais amplo e os objetivos de longo prazo da organização. Isso pode levar a uma sensação de alienação e de falta de sentido, tanto em relação ao trabalho quanto em relação à organização como um todo.
Zygmunt Bauman também destaca a perda de sentido e de propósito na modernidade líquida. Isso resulta em uma sensação de desorientação e de falta de direção, tanto no trabalho quanto na vida pessoal.
A Fragilização da Sustentabilidade das Organizações a Longo Prazo
A desvalorização da memória e da história também tem implicações importantes para a sustentabilidade das organizações a longo prazo. Em um ambiente onde o passado é irrelevante e o futuro é incerto, as organizações podem ter dificuldade em desenvolver estratégias de longo prazo e em manter uma visão clara de seus objetivos e valores.
A fragilização da sustentabilidade das organizações a longo prazo tem várias consequências negativas. Em primeiro lugar, ela prejudica a capacidade das organizações de se adaptar a mudanças e de enfrentar desafios de longo prazo. Em segundo lugar, contribui para um ambiente de instabilidade e incerteza, o que pode levar a uma diminuição da confiança e do compromisso dos funcionários.