segunda-feira, julho 02, 2007

O Plano de Negócios

Parece que nos encaminhamos para a “empresarialização” das escolas públicas. Aparentemente, as escolas primárias e secundárias terão de encontrar “unidades de negócio” alternativas como forma de financiamento das suas actividades escolares e da renovação das suas instalações e equipamentos. Os professores, para além das aulas propriamente ditas, poderão ter de se preocupar com a “rentabilização” dos espaços e equipamentos. Talvez num futuro não muito distante possam também “rentabilizar” os recursos humanos, quem sabe através de inovadoras actividades de fabrico de croquetes, serviços de catering, de karaoke e de jongleurs...

No fundo nada que não ocorra já em muitos estabelecimentos por esse pais fora. Há, contudo, uma diferença entre poderem recorrer ao aluguer de espaços ao fim de semana, como forma de arredondarem os parcos orçamentos, e a “necessidade”, ou imperativo, de se preocuparem com a “rentabilização” dos recursos tornando-se mais especializados em eventos e tendo deliberadamente de concorrer com empresas vocacionadas para essa actividade. Supõe-se que, apesar desta descoberta sociológica do fascinante mundo empresarial, os professores, quem sabe alguns deles ao menos, continuem a ter como missão ensinar os alunos.

Mas, nesta onda e na trajectória, podemos ir bem mais longe. Rapidamente poderemos assistir a aproximações de marcas e empresas que poderão oferecer patrocínios apelativos. A troco da visibilidade de cartazes no interior, ou para o exterior, das escolas, as instituições poderão ter chamadas de telemóvel mais baratas, vouchers de desconto no Feira Nova, quem sabe poderão receber computadores portáteis, a troco de visionamento de publicidade nas salas de aula, poderão receber material multimédia, a troco de corners temporários poderão receber equipamentos de educação física dignos de ginásios de topo, a troco de stands permanentes e alternativas ao bar e à papelaria, podem-se assinar contratos mais completos de apoio. Daqui a presenças na sala de aula no tempo lectivo é um curto passo. E porque não manuais escolares patrocinados por marcas de chocolates, yogurtes ou de roupa cool?

O projecto educativo do ciclo da água pode ser substituído pelo importante ciclo de fabrico de ténis em qualquer sweat shop na Ásia. A circulação do sangue nos seres humanos pode ser vista em cd rom em casa e na sala de aula pode ser substituída pelo ciclo de fabrico de hambúrgueres de uma qualquer marca de franchise. Os projectos de “investigação” criadores de “competências” poderão ser apenas formas de arranjar ainda mais dinheiro para as escolas. Por exemplo, e sabiamente contornando as leis de trabalho infantil, podem-se instruir os miúdos para recolherem inquéritos de mercado preenchidos pelos alunos e famílias, e por transeuntes nas bombas de gasolina ou nos centros comerciais. Promovendo ainda uma política activa de “estágios” dos alunos no sector da macdonaldização de empregos para adolescentes. Tudo isto resultando em sérios incrementos da capacidade de interacção social dos alunos e de fortíssimo reforço da “empregabilidade” da população escolar.

Tudo isto me parece bastante legítimo e lógico. Pelo menos numa sociedade em que a preparação das crianças para a vida passe a enquadrar a preparação para os actos de consumo. Poderemos finalmente reduzirmo-nos ao momento de consumo. Sem passado e sem futuro.
© José Manuel Fonseca

3 comentários:

Carlos Araújo Alves disse...

Não, não é para comentar, é para, solenemente, te cumprimentar.
Grande abraço.

Susana Serrano Pahlk disse...

Acho perigoso tantas ideias juntas para os espias do ME. Se alguma daquelas luminárias lê este texto ainda tenta pôr tudo em prática.
Cuidado!

San disse...

Aaaaaaaaaaaaargh!