terça-feira, outubro 05, 2010

Subversão

é colocar a questão sobre porque é que "temos de ser mais competitivos", porque é que "temos de crescer os negócios senão somos expulsos do mercado", porque é que "temos de nos reinventar e mudar constantemente antes que outros o façam por nós", porque é que "temos de doar a alma, o sangue, a inteligência e as tripas". Colocar estas questões é um pecado capital aos olhos daqueles que definem a doutrina dominante do optimismo institucional, do pensamento positivo, do "é preciso mandar vibrações positivas para o Universo". Claro está todas estas teorias são formidavelmente úteis num contexto de crise e de desemprego que atinge já não só os pouco qualificados. São úteis para os que partem renovarem a esperança na possibilidade de "regressar à luta", como uma "oportunidade de relançar a carreira em novos trajectos de desafio pessoal" e são úteis para os que ficam com carga de trabalho a triplicar aceitarem com bonomia a sua nova situação de escravos até um dia que a grande lotaria da competitividade os escolha como novos excedentários e supérfluos. 

Claro está, a cedência perante a ideologia, conduz a dias que começam às seis da manhã e acabam às onze da noite e em que é esperado que as pessoas demonstrem energia, entusiasmo, fé e determinação em participar na mágica criação de um mundo admirável e azulíssimo, postecipando, de modo calvinista, alguma vã esperança de reconhecimento e recompensa. Porque, o tempo é único e só conta o agora. O passado não nos concede créditos e o futuro exigem a permanente demonstração que nele caberemos. Para quê?

Claro está, gera orfãos de pais ausentes, e acéfalos jogadores de actividades online que decorrem aqui e agora e não têm nem história nem futuro. Apenas disponibilidade para automatizar algumas competências que farão excelentes operadores de sistemas homem máquina no futuro. Vivemos disconectados da realidade, uns dos outros, em sofrimento que acreditamos ser mitigado por uma realidade virtual que nos é concedida em doses de choque na empresa pelos "motivational speakers", pelo "team building", e, na vida em geral pelos programas da Oprah... ou pela Julia Pinheiro....

Sempre à espera do euromilhões ou de poder aliviar a alma no facebook enquanto o euromilhões não chega...

subversão é perguntar porquê e para quê? 

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