sábado, maio 14, 2011
Mentiste-me Pai
Faz hoje já não importa quantos anos que partiste. Disseste-me uma vez, em que à beira do monte, me fizeste sair do carro e tapar os olhos, que o que eu via, naquele momento de olhos fechados, era o que me deixarias quando morresses. Nada. Que me darias tudo o que te fosse possível em vida. E deste-me muito mais do que seria razoável. Deste-me vários mundos Pai. Deste-me exemplos. Deste-me explicações e longas caminhadas em Monsanto em que me falavas de livros e de histórias fantásticas. Deste-me conselhos e amparo quando eu duvidada de mim próprio. Disseste-me que o teu Pai te tinha dito aquela frase que eu já passei aos teus netos que "há dinheiro que não tem o nosso nome pelo que não devemos aceitá-lo". Mas afinal, Pai, mentiste-me. Depois de morreres deixaste, afinal, muito. Deixaste-me um dor que dilacera o coração, uma saudade que me mareja os olhos de lágrimas ainda hoje. Que corta a garganta como arame farpado. E deixaste-me tantas boas memórias. Como aquela em que tu e o Gonçalo, então com dois anos, se desataram a rir da minha fúria por terem desarrumado mais de seiscentos cd's que estavam espalhados pelo chão da sala. Deixaste-me afinal tanto. Nem tu podias imaginar o peso da herança que afinal acabaste por me deixar. E as saudades, Pai, são tantas.
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1 comentário:
Mais uma vez: como o compreendo.
Mas Eles deixaram-nos muito, muito...
...e muito para além da Saudade.
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