sábado, novembro 06, 2021

Conto de Natal

Admirável e recorrente mundo velho 

Paulatinamente o mundo tem vindo a inverter as polaridades. A esquerda torna-se progressivamente mas decididamente totalitária e, a direita, de modo bizarro, torna-se contestatária da ordem que as elites pretendem impor à carneirada.

O controlo social avançou muitíssimo nos ultimos meses. Por causa da pandemia, e agora por causa da crise do clima, reforça-se o número e tipo de "iniciativas" e experiências como que apalpando o terreno. Para já, sobretudo, de "comunicação" para ver a "sensibilidade" da populaça. 

As distopias possiveis são interessantes. A alimentação como prazer hedonico possivelmente será objecto de "culpa" e de vergonha. Tal como viajar será um pecado inominável e um desejo a reprimir, sentir vontade de ir a um parque distante será um crime contra Gaia. Quando muito umas colónias de férias consignadas de tres em tres anos se o "crédito social" for francamente positivo. Talvez num futuro muito próximo a populaça (de que a classe média já nem se distingue...) veja o seu "direito" a comer carne fortemente restringido. Possivelemnte até os animais predadores serão sujeitos a "recondicionamento" para abandonarem esses (maus) hábitos heteronormativos patriarcais e tóxicos. Talvez no inicio a "carne artificial" possa ser uma alternativa mas em breve a dieta será mais crua e seca. Em nome do planeta. Largas plantações de soja e avocados tornarão o solo infértil consumirão água em excesso e colocarão a questão final da possibilidade do Malthus triunfar. Um eugenismo bondoso que "libertará" os pobres de tão nefasta existência. A procriação cessará. Apenas as classes de cidadãos com cognição e motricidade suficiente serão reproduzidos in vitro e gestados por seres com uteros cuja designação será oficialmente de criaturas com corrimentos sanguineos mensais e com aptidão para amamentação. 

Apenas as "elites" prosseguirão o caminho da liberdade porque sim. Comerão o que lhes aprouver, circularão de avião ou automóvel (eléctrico e auto pilotado) enquanto os demais farão turismo virtual, e viverão sem grande mobilidade geográfica a não ser que sejam "requisitados" para laborar noutro sitio qualquer. Talvez se possa administrar a esperança de ascender. Um elitemilhões sorteado cada mês.  

Além de passaportes sanitários para ir para o trabalho, e de sistemas de pontos que possibilitarão algum fim de semana em resorts como prémio pelo conformismo, a esperança será devidamente controlada em ilusão e administrada em "raspadinhas". Um bife numa raspadinha em cada 18 milhões de raspadinhas. Uma ida à barragem de Montargil em cada 25 milhões. Um shot de alcool em cada 300 milhões de raspadinhas. Um cigarro se o nivel acumulado de créditos sociais atingir os setecentos milhões de pontos. 

Aspectos mais negativos da natureza humana como os resquícios de competitividade e outros defeitos do homem branco continuarão a ser sublimados em apoio a "clubes" de desportos que permitam espectáculo quase total e permitam o adequado "uso" e gestão da agressividade. Ao fim ao cabo a natureza humana é o que é, e demorará a que uma terapia genética garanta um ser sem pulsões mas ainda assim activo e trabalhador e com cognição suficiente para ser útil. 

A sociedade terá apenas o tempo do aqui e agora. 

O que se observa neste momento em todo o lado, e mormente nos sitios onde a "culpa" é um mecanismo de gestão bastante eficaz (no ocidente branco (judaico cristão - mesmo nas suas variantes calvinistas) em particular, nos outros sitios este mecanismo é pouco eficaz...) é que se tornou extraordinariamente fácil mobilizar a multidão contra a dissensão. Elicitar a sanha da "imensa maioria" contra os que meramente duvidam. A introdução de medidas absurdas, há anos atrás, parece agora quase sem atrito. O nivel de aceitação do que seria bizarro parece pacífico. Assistimos até à "exigência" de medidas mais duras e punitivas por parte dos que cedem com orgulho a sua liberdade. 

Deram à costa possibilidades de as pessoas serem controladas todo o tempo em todo os lugares. Com quem estão, como estão, de onde vieram para onde se deslocam, o que estão a fazer, o que fizeram. Com solicitações alietórias, imprevisiveis de demonstração do que se passa naquele momento e lugar através de selfies com 1 minuto para serem tiradas e respectivo upload. Em caso de "não conformidade" perda de pontos no sistema de rating e avaliação do comportamento. Punição em caso de reincidência. Os números de aceitação desta forma são surpreendentes. A desejabilidade social deve deixar de boca aberta os que as sugeriram possivlemente como fronteiras do absurdo. Afinal o rebanho é mais obediente e cobarde do que se imaginava. 

Nem será preciso soma. 

As escassas dezenas de dissidentes serão facilmente esmagadas. Desde logo a natureza babeliana da dissidência assegura que a unidade politica dessa gente é quase impossível. Em todo o caso pouco pragmática. Pode-se fazer uma experiência isolando alguns numa região remota. O mais natural é que se destruam entre si. A natureza paranoica de muita da dissensão encarregar-se-á de criar novos inimigos novas ameaças na ausência da contestação original ao sistema de controlo claustrofóbico. Liquidar-se-ão uns aos outros. 


1 comentário:

tempus fugit à pressa disse...

que visão mais distópica a soja é uma cultura equilibrada não destrói solos