segunda-feira, setembro 09, 2019

The Age of Aquarius


Há poucas décadas proliferava pelo mundo um optimismo assente na esperança que a ciência, a tecnologia e novos estados de “consciência colectiva” nos transportariam para uma espécie de paraíso na Terra. O fim, talvez exagerado, da ideologia colectivista e determinista do comunismo soviético, abria fronteiras de liberdade individual e de transformação social com a resolução de velhas opressões: de raça; de género; de orientação sexual; de classe; de acesso à educação entre outras.

O consenso social democrata, e o seu primo, o marxismo de paladar mais europeu e selecto,  repousavam nas universidades, em particular nos departamentos de linguística onde eram desenvolvidas utopias de mais “homem novo”, agora um ser de sexualidade fluída livre de preconceitos, do passado e das amarras materiais. O welfare state  morrera, mas felizmente o dinheiro barato e o crédito universal colocavam o consenso de Washington e o mercado (ou seja o capitalismo) ao serviço de todos. E, todos ficariam contentes. Liberdade  económica e liberdade de costumes. Uma sociedade livre de seres livres e iguais e, próspera, com seres ricos como Gates que achavam que os impostos deveriam ser mais altos e financiar uma visão mais igualitária. 

Mas algo correu mal. As elites iluminadas e frequentadoras de Davos e de outros lugares prenhes de panache, categoria e charme, alimentaram e alimentaram-se de uma ilusão que deixou na penumbra os “deplorables”.  E os deplorables vêm em várias tribos, alguns até de colete amarelo. E do arrumo que era uma sociedade com classes, mas poucas e sem complexidade assinalável, ao fim ao cabo eles e nós são categorias simples, damos por nós submersos numa cacofonia de vozes agressivas e polarizadas. Infelizmente o mundo é hoje uma imensa balcanização de tribos de consumidores e de estilos de vida que não parecem acomodar-se aos padrões desejados pelos próceres da engenharia social dos departamentos de estudos de género nem  das business schools.

O controlo social, que no fundo todos desejavam, perdeu-se num mar de tecnologia que proporcionou voz e espaço social a toda a sorte de pessoas. Ampliando até ao delírio as fantasias e os preconceitos de todos. E, em vez de liberdade de costumes temos hoje um espaço social cada vez mais hostil, agressivo, anti-científico em que tudo se dilui e relativiza. Pior, a riqueza gerada foi também presa fácil de gente mais criativa nos processos de corruptela e de invenção de esquemas de ponzi, a que a banca se acabou por dedicar de modo bastante claro. E aqui estamos,  com a noção de que a evolução do paradoxo formulado pelo biólogo Edward Wilson; temos emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia dos deuses, não parece ser a mais promissora. 

As elites, sem surpresa,  de ambas as aisles do political spectrum, reagem com sugestões de supressão de liberdade que já conhecemos no e do passado. As divisões sociais escancaradas e muito visíveis remetem-nos igualmente para tempos sombrios do passado.   Dark times ahead.

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