À beira de mais um ano lectivo proponho alguns tópicos para reflexão.
Poderá o Estatuto de Carreira Docente não incluir as palavras “educar”, “ensinar”, “instruir”, “aprender”? Pode, claro que pode. Mais, poderá a Lei de Bases do Sistema Educativo não conter a palavra “educar” e a palavra “disciplinar”? Pode pois. Em contraponto, pode, no que se refere aos objectivos do ensino primário, conter coisas bizantinas como: “Fomentar a consciência nacional aberta à realidade concreta numa perspectiva de humanismo universalista, de solidariedade e de cooperação internacional;” . Confesso que não faço a mínima ideia como é atingido este objectivo. Chegados ao ensino superior, os bravos alunos enfrentarão um contexto que visa: “Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;”. Sou franco, não sei muito bem o que é uma “estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração”. Eu, que também sou pai, tenho a expectativa que na escola primária, os meus filhos desenvolvam consciência cívica, moral, capacidade crítica, sentido de solidariedade, sensibilidade estética, vontade de reciclar, de lavar os dentes e de não extrair macacos do nariz em público. Procuro assegurar que também lhes ensinem aritmética, gramática e que adquiram mais léxico que o dos presidentes dos clubes de futebol. E que lhes exijam respeito pelos professores e por si próprios.
Poderão os pais, no ensino secundário, assinar justificações de faltas dos seus filhos, com a expectativa muito razoável que sejam deferidas, porque os filhos foram ao funeral de uma “actor” de telenovelas? Poderão os pais assinar justificações de faltas dos filhos, com igual expectativa à anterior, porque os filhos foram a “castings” para telenovelas? Aparentemente, sim senhora. Porque, parece que muitos e muitos pais acreditam que há duas soluções de vida para os filhos. Serem famosos ou ganharem o euromilhões. Até porque as trágicas consequências dos comportamentos do jovem “actor” passaram sem apreço, nomeadamente que visasse “Desenvolver a formação moral da criança e o sentido da responsabilidade, associado ao da liberdade”. Ficou-se apenas pela exploração até ao vómito da imagem idílica do personagem na novela. A consideração e homenagem ao jovem que morreu nunca foi feita.
Poderá um professor ser incomodado porque sobre um garoto, de onze anos, apresentado como “não lente e não escrevente” simplificou e reduziu a coisa ao analfabetismo? Aparentemente sim, pode ser mesmo criticado com dureza. Porque na terminologia “adequada” não deveremos traumatizar a “criança”. Devemos antes remete-la para um mundo de ilusão paternalista, pelo menos até ela sair finalmente do “sistema educativo” e deixar de ser “actor do processo” e, finalmente, lhe bater no focinho o mundo desencantado. Claro está, pode entretanto ter “sorte” e pode chegar a alguma telenovela.
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José Manuel Fonseca
1 comentário:
não extrair macacos do nariz em público? se um puto se especializar nesse tipo de demonstrações pode bem ser convidado para um bigbrother e facturar horrores em contratos de publicidade pá. quiçá, uma assessoria num departamento do governo.
eu cá repensava essa estratégia educativa, man...
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