Causa-me alguma estranheza a profusão de gente que se disponibiliza para ser consciência de outros. Que se oferece para padrão moral a ser seguido. Que se auto-estabelece como referência e standard. Nesta questão do aborto parece-me existir uma verdadeira inflação de gente que sabe imenso do assunto nos múltiplos planos em que o debate decorre. De repente médicos percebem imenso de doutrina de direito, advogados descodificaram genes e ligações neuronais, sociólogos distinguem-se em conhecimentos sobre neuroses e psicoses, religiosos castos falam com profusão de detalhes de relacionamentos íntimos que por certo leram algures, escritoras rasgam as fronteiras da filosofia, economistas teorizam sobre priões, psicólogos dirimem o código de processo penal. Não há míngua de gente tresloucada e destemperada pela ocasião. O “outro” tornou-se mesmo um local insalubre. Para além disto, há ainda uma dose cavalar de paternalismo nas posições de uns e de outros que me irrita um bom bocado. Eu tenho mesmo dificuldade em ser tomado por imbecil, por garoto e por atrazado mental. São feitios.
Eu confesso que sendo uma coisa de consciência não estou muito disponível para revelar a minha, que a vou utilizar no dia aprazado, mas não faço questão de converter ninguém à minha enorme sabedoria no assunto.
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3 comentários:
há quem vá levar a consciência a passear (envergando um vistoso fato de treino) para o centro comercial. no dia aprazado.
e depois acha que isto tá mal, que não há cidadania. que faz falta um salazar pra pôr ordem nisto.
Não poderia estar mais de acordo! Não se trata de uma questão de cidadania, mas de consciência.
Exactly...!
E porque esta sua frase 'Eu tenho mesmo dificuldade em ser tomado por imbecil, por garoto e por atrazado mental' poderia ser minha porque não creio que nem um nem outro sejamos tão alienígenas quanto às vezes nos sentimos, e que pertencemos à mesma família genética do resto da população... - pois!
Saudações blogosáuricas!
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