O aquário era uma sala com uma vidraça, em toda a sua extensão, situada ao longo de um amplo corredor. Era numa empresa e no aquário eram colocados os indesejáveis, os excedentes, os supranumerários. Ali ficavam expostos aos mirones dos "outros" dos ocupados com o expediente, dos "úteis" à organização, dos que decidiam, dos que eram cruciais e insubstituiveis. Era uma prova de resistência psicológica. Ser olhado com aberto desdém, ou de lado disfarçadamente, ou com tristeza, era uma provação inevitável. Alguns cediam e demitiam-se, poupando à empresa a indemnização. Outros, aguentavam a coisa durante anos. A saúde mental ia pagando, mas cerravam os dentes e seguravam alguma sanidade com a raiva. Muitos ficavam prisioneiros do aquário imaginando mundos exteriores adversos e mesmo ameaçadores, inventado para si próprios impossibilidades de felicidade fora daquela prisão psicótica. Raros eram os que um dia enfiaram uma cadeira nos cornos de quem os metera no aquário antes de seguir com a vida alegremente noutro qualquer sitio.
Há muiots anos ouvi da boca de um conhecido dirigente associativo a expressão prateleira, e de como nas empresas dele tinha carpinteiros que podiam fazer mais estantes... A ideia era a mesma. Esperar que os “emprateleirados” cedessem e se demitissem. Era mais barato e evitava-se a questão do tribunal de trabalho, que esses sacanas decidem sempre a favor do empregado.
Vem isto a propósito de uma estória que vi hoje na imprensa e nos blogues de um administrador ostracizado na CP.
Na altura, há décadas, não entendia o racional da coisa. Aquários, prateleiras, pareciam-me formas imbecis e cobardolas de gerir pessoas. Hoje percebo a “verdade” da coisa. Não se tratava só da vantagem financeira. Que agora já nem existe verdadeiramente. Hoje pode-se despedir uma pessoa sem grande problema. A questão é outra.
Entre nós não basta expulsar o outro. Não basta triunfar sobre o outro. É preciso conseguir humilhá-lo. Esmagá-lo. Se possível em frente à sua família.
terça-feira, janeiro 09, 2007
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4 comentários:
cornos não faltam. as cadeiras é que são fraquinhas, feitas de materiais recicláveis, levezinhas, amigas do ambiente e tal, e o efeito final não é tão divertido.
Para me vingar basta sentar-me na margem do rio. Irei ver passar o corpo do meu inimigo -dizem os chineses. É verdade, garanto. Deixem lá as cadeiras.
Para me vingar não preciso de fazer nada. Basta sentar-me na margem do rio. Irei ver passar o corpo do meu inimigo - dizem os chineses. É verdade, garanto. Deixem lá a mobília.
Desculpem, não queria "insistir". Eu sou é azelha!
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