Em épocas de crise, uma das estratégias mais populares, e oportunas, consiste no aproveitar dos saldos. Empresas em dificuldades, à beira da extinção, são adquiridas por outras cujo desafogo financeiro lhes permite equacionar várias alternativas estratégicas. Ora em contextos de crise, frequentemente encontram-se negócios que são pechinchas...
Uma delas consiste em adquirir concorrentes numa lógica de aumento de quota de mercado. Este é, claramente, o caminho que serve de tema ao capítulo em epígrafe que existe em todos os manuais de estratégia. Podendo aproveitar para adquirir um concorrente e encaixar a sua base de clientes, e ainda as marcas que o concorrente possua, esta é claramente uma boa movimentação estratégica se o negócio for financeiramente vantajoso. Por outro lado, podem adquirir-se empresas cujo negócio não é meramente aditivo sobre o mercado, mas apresenta alguma espécie de sinergia comercial, alargando gamas de produtos oferecidas à nossa base de clientes, permitindo alcançar novos segmentos de mercado em sentido social ou geográfico, permitindo a presença em novas formas de canais de distribuição ou melhorando a eficiência geral da cadeia de distribuição, ou ainda, no sentido tecnológico, possibilitando a melhoria de algum aspecto da cadeia de valor e de conhecimento do negócio original, alargando a possibilidade de lançamento de novos produtos, ou a adopção e assimilação de tecnologias mais promissoras. Podem, ainda, adquirir-se empresas que não apresentando qualquer espécie de relação sinergética com o nosso ‘core business' se situam em sectores de actividade cujas taxas de crescimento a prazo, ou cujas margens de rendibilidade, sejam excepcionalmente atractivas e nesse caso encentamos uma clara diversificação, perseguindo uma visão de portfolio de negócios e de dispersão de riscos. Podem, naturalmente adquirir-se empresas cujos balanços contêm reservas ocultas de valor, sob a forma de imobilizados ainda em condições de serem liquidados com mais valias interessantes, ou que podem ser deslocalizados sem grande alarido, ou sob a forma de patrimónios imobiliários registados por valores do século dezoito, ou de valores mobiliários pouco expostos a riscos excessivos, e cuja liquidação permita encaixar verbas consideráveis, sem que a consequente resolução dos passivos seja demasiado penalizadora. Isto é, os credores possam ser persuadidos que receberem uma fracção dos seus créditos é uma bênção do céu.
Mais modernamente, podemos, ainda, adquirir empresas em dificuldades e cujos problemas adquirem tal grau de exposição mediática, embaraçando tanta gente, que a sua aquisição, embora, sem seguir nenhuma lógica empresarial anteriormente mencionada, e mesmo desafiando alguns aspectos fundamentais da gestão financeira, como o princípio de que as operações devem ser racionais, apresentem, ainda assim algum aspecto interessante. Podemos, então falar de uma feliz associação entre a esfera dos negócios e outras esferas, e as aquisições de empresas, aparentemente sem mercado ou sem produto ou sem ambos, conduzem à constituição e acumulação de "direitos especiais de saque" que podem ser posteriormente convertidos. Talvez não nalguma bolsa de valores mobiliários, nem sequer sob a forma de produtos tóxicos, tão populares ultimamente, mas sob a forma de "ponderações de ordem subjectiva em futuras apreciações de propostas para concursos" que permitam vislumbrar a possibilidade de elevadas probabilidades de vencer esses concursos ou ocasionem a abertura de "avenidas mais promissoras nomeadamente sob a forma de negócios, que corram em contextos, em que se possa evitar uma excessiva exposição aos factores de concorrência em mercado aberto". Há várias vantagens nestas parcerias público privado. Nomeadamente evitar formas aborrecidas de ‘dumping', bem como ser nomeado como um adepto do proteccionismo, que resulta sempre num considerável e evitável enxovalho, como resultou óbvio da recente cimeira do G20.
Esta notável, e feliz, evolução no campo das fusões e aquisições, reforça uma outra apreciável tendência que sedimenta a nossa confiança no futuro prenhe de alianças estratégicas entre plutocratas e oligarcas que nos poupa à maçada de ter de produzir escolhas complexas e nos proporciona melhores níveis de estabilidade e de conforto.
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3 comentários:
uma boa maneira de ver a questão... mas e o risco associado às aquisições? e a própria fusão ñ gera factores de incerteza? pq é td mt bonito de falar... mas após a fusão existe sempre uma das companhias/empresas q. fica a dominar o business... pode induzir uma saida de "talento" qualificado p/ a concorrencia e por via disso perder cota de mercado...
o ponto deste artigo é outro ...tudo o que está escrito no diário económico serve para disfarçar a afirmação dos ultimos dois parágrafos.....
eu quero lá saber de fusões e aquisições.....
apenas a constatar um facto... já desde tempos imemoráveis na história que existe uma dupla cumplicidade entre o poder e o dinheiro! ñ é algo completamente novo... para o zé povinho.
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