segunda-feira, junho 06, 2011

a banalização da grandiloquência e a fé cega na arrogância da ciência

vem isto marginalmente a propósito de uma coisa que recebi que me faz participante voluntário ou involuntário, é irrelevante, num processo de "Criar profissionais Globais." através da minha contribuição "para o desenvolvimento da sociedade global através da preparação dos seus estudantes, promovendo uma atitude empreendedora baseada nos princípios da responsabilidade social, excelência na investigação e empregabilidade."

Este tipo de designios grandiosos é supostamente um mecanismo de mobilização das energias e de focalização de grupos humanos que remarão decididamente para o mesmo lado concretizando o desígnio. Mas este discurso ou esta autêntica narrativa pós moderna e científica rapidamente nos transporta para um mundo em que depositamos um fé arrogante, em certo sentido fantasiosa, na capacidade da ciência e da tecnologia para resolverem os problemas que criámos justamente por acreditar que a ciência e a tecnologia tudo resolvem.

Durante as décadas de 90 e início de 2000 existiram surtos de e.coli que mataram crianças nos EUA. Nos hamburgueres. Depois a carne passou a ser bombardeada com amoniaco para que as bactérias (e que mais?) morressem. Vê-se isso no filme Food Inc. A ciência e a tecnologia criaram uma indústria de comida barata que permite alimentar trabalhadores baratos para empregos que pagam pouco. Competitivos portanto. Aquilo que precisamos de ser. A ciência e a tecnologia resolveram o problema da contaminação da carne. Entretanto deu-se nos EUA nos espinafres. Nas alfaces. Agora na Alemanha nem sequer se sabe onde. Mas a ciência e a tecnologia por certo resolverão. Entretanto morreram trinta pessoas. And counting.

O problema de alimentar populações cada vez maiores com recurso a métodos de produção em massa levou-nos à manipulação genética de várias coisas como animais e sementes. Parecia que conseguíamos controlar tudo. Afinal não. Subsiste o problema de alimentar muita gente a preços razoáveis. Mas talvez seja altura de questionar o limite do nosso delírio. Ao fim ao cabo já não estamos a nutrir seres humanos. Estamos a produzir obesos em regime industrial. A coisa é boa para a indústria do "wellness" e do "emagrecimento" e finalmente para a farmacêutica. Será boa para nós?

1 comentário:

Joao Faria disse...

"O Homemque viveu 200 Anos". Tanto o filme como o livro.
Eis o resultado do que agora, como se nada fosse, chamamos "bug" (Eu conheci, nos 80's com "Ghosts in the Machine".
E isto só em informática.

E o resto? Pára-se tudo?
A cada Inovação, Descoberta, chame-lhe o que quiser que PRECISAMOS, tanto para (sobre) Viver, como pela nossa essência Humana que no-lo EXIGE, há-de sempre aparecer um bug algures, em seja no que fôr, uma "interacção medicamentosa", um "efeito secundário".

Nada disto nos tira a nossa Grandeza como Seres Humanos.

esconder é que não vale... mas isso já vai sendo hábito. Somos (também) assim, não é?