segunda-feira, julho 25, 2011

A raiva irracionalizada e a perda do Norte

Nestes dias há sentimentos de espanto, impotência, raiva e sedução. O norueguês conseguiu, no seu delírio narcisista, megalómano, sádico e psicopata despertar e desenterrar, de forma inapelável, vários fantasmas. Não me convenço que tenha sido possível que agisse totalmente solitário. Nomeadamente no transporte de tanto explosivo. Mas talvez. De qualquer modo parece-me acessório em face de tamanha tragédia e horror. A policia que investigue. O problema que ele levanta, para além do delírio místico, esoterismo de pacotilha, da agenda fascizante, é o do extremo do politicamente correcto a que chegámos e que no fundo e em voz baixinha começa a ter audiência e murmúrio. O multiculturalismo, uma bem em si mesmo para mim, foi transformado, de certo modo em alibi, em caução para a cobardia. Para o fechar de olhos. O que conduziu a abusos, a tornear a "Lei" consuante a "minoria". E vários assuntos foram-se tornando tabu. Por exemplo, achamos intolerável, e quanto a mim bem, qualquer ataque a mesquitas entre nós, mas, não se ouve uma palavra sobre a Arábia Saudita onde, sendo impensável uma igreja cristã, um desgraçado que tenha um gesto reflexo de se benzer pode ver-se em sarilhos enormes. Mas ninguém ousa discutir esta reciprocidade. Fingimos que é um não assunto. A "esquerda" chique só tremulamente se agita quando as mulheres são ameaçadas de lapidação ou mutilação genital. Por exemplo, não se houve uma palavra sobre os delírios do Hamas sobre mulheres ou sobre homossexualidade. Se um tipo de direita europeu disser de um homossexual o que dizem os tipos do Hizbola ou do Hamas é crucificado. Se for palestiniano faz de conta que não se ouviu. As chacinas do Hamas aos da OLP são não assuntos. Já na Sérvia versus Kosovo a questão islâmica deixa a esquerda mais ortodoxa atordoada. A Nato interveio a favor dos muçulmanos portanto estes muçulmanos não são parecidos com os guerrilheiros libaneses. É confuso. Pelo menos na aparência, se não se for mais fundo na História. O complexo de culpa colonial também cava fundo neste aspecto.

A confusão amplia-se quando os evangélicos sulistas da Bible Belt partilham com os alter anti globalização da esquerda a mesma crença/ódio na teoria conspirativa do zionismo/bilderberguianos/banqueiros/maçons/luciferianos. O discurso dos amantes do Zeitgeist (filme que contêm interessantes questões) pode-se confundir facilmente com o discursos dos tea partiers americanos o que leva a interessantes meltdowns ideológicos.

O que é novo neste fanático norueguês para além da escala do horror, do sadismo e da frieza do planeamento e execução solitária (se foi lone ranger de facto..) é que este é favorável aos judeus, ataca, de modo articulado e não pueril, a escola de Frankfurt em que de facto se baseia a matriz do nosso multiculturalismo e tolerância civilizacional, e discute várias questões de ética e de fraqueza e capitulação em face de comportamentos de minorias que por exemplo recusam a integração ou as regras da cultura que encontraram e não se propõem a dialogar coisa alguma. É nisto que o tipo pode captar apoiantes e alguma simpatia, por agora disfarçada, mas daqui a algum tempo emergente e abertamente exposta. Toda a gente vai dizer que repudia a chacina mas...

Isto conduzir-nos-á a becos sem saída. Terríveis. Nós consagrámos a Liberdade. A fraternidade. A solidariedade. Institucionalizámos o Direito. Fomos um farol. Por isso nos procuram os refugiados. Os que fogem da tirania. Do terror. Da miséria. Não deitemos séculos de construção de valores superiores assim fora tão apressadamente. É em tempos de negrume que a luz é precisa.

Ora aqui convinha que nos norteássemos por princípios sólidos. A tolerância e o convívio com o nosso "outro" é fundamentalmente enriquecedor, o acolhimento do "outro" entre nós é um acto soberbo e digno e a Lei é para se cumprir sempre. Tão simplesmente. The Law of the Land. And our laws are generally very fair and tolerant. So abide them. Period.

3 comentários:

Paulo Terça disse...

É verdade que a defesa ideológica de certos princípios ou ideias tende a criar jurisprudência, e esta tende a substituír-se à reflexão. Isto talvez seja um comportamento natural: a conservação da energia aplicada ao pensamento. Classificamos os assuntos para não termos de pensar mais neles. E é aí que criamos escolas de pensamento que nos limitam. Os universos esquerda/direita serão exemplos. No entanto, ao mesmo tempo que são limitadores, permitem formar correntes ideológicas que agregam e motivam grupos a tomar iniciativas. Certos assuntos funcionam como bandeiras que permitem a identificação com certo grupo. És pela justiça colectiva ou pela liberdade individual? Defendes mais estado ou mais iniciativa privada? Isto continua até ao ponto em que qualquer assunto se torna definidor: És por Israel? És de direita. És pelos palestinos? És de esquerda. Aborto sim? Esquerda. Católico? Direita. 
O fenómeno seguinte ao da identificação com o grupo é o do reforço: uma vez escolhido o grupo ideológico, passamos a só ler o que reforçar ou concordar com as nossas convicções. Finalmente, o chamado "políticamente correcto" é apenas o passo seguinte nesta tendência de conservação de energia: o que é políticamente correcto já nem está aberto à discussão. Por exemplo, já não é políticamente correcto pôr a escravatura ou a pena de morte em questão (embora casos como este em Oslo ponham muitos - incluindo eu - a pensar porque é que a comunidade tem de pagar para manter este animal preso em vez de o cortar às postas). Eu advogo que tudo deve ser posto em questão. A minha dúvida é se isto não contribuirá para a desagregação e desmobilização das pessoas em torno de certos ideais.

Joao Faria disse...

Paulo Terça, a sua última frase pode, de certa forma, levar algumas pessoas a pensar que estamos num ciclo vicioso (ou viciado pela própria Natureza Humana).
A Teoria do "Labelling" por um lado (podendo levar a extremismos de posições, como é bem visível no nosso país, e não só), e o desmoronamento da sociedade: cada um por si.
No entanto, é verdadeira.

O problema, penso eu, está na informação. E não me refiro à comunicação social apenas, que tudo faz para alarmar, pois aí tem mais audiências, mas à Educação e Formação de Valores, com fundamentos bem assentes no que foi referido em inglês pelo nosso amigo Prof. José Manuel Fonseca.

Ambos são da responsabilidade dos pais. Mas também do Estado, melhor, quem representa o Estado (todos nós) tem a obrigação de oferecer, pelo menos a nível académico, o máximo de informação possível e SOBRETUDO, cultivar a ideia que não é aprender para o teste/exame, mas sim para aprender a aprender e gostar de o fazer. O país miltarmente mais poderoso do Mundo está recheado com 308 milhões de ignorantes. Por cá, é o mesmo, mas somos menos e inofensivos.

Ensino que ensina a gostar da descoberta, e não o tipo formatado e formatante que por aí em tantos países se vê. Pais que se dediquem também a essa tarefa. Talvez daqui por muitas gerações (quase) todos os países do Mundo (idílico) sejam Inteligentes.

Joao Faria disse...

http://youtu.be/ccReLF6M62Y