quarta-feira, dezembro 21, 2011

A esquizofrenia como regime político e normalidade social

Nesta questão do ide lá para fora se aqui achais que não tendes futuro é um dos mais fantásticos double binds que já tive oportunidade de conhecer. Não só os governantes se põem na posição exactamente simétrica àquela que seria de esperar de quem busca a eleição, que é a de resolver os problemas da zona sob sua jurisdição, e consequentemente melhorar as condições de existência das pessoas a quem serve e em nome de quem são eleitas, parecendo "empurrar" os eleitores a fugir de si e do país que é suposto melhorarem como diabo da cruz, como ainda se propõem "facilitar" a fuga através de uma instituição como foi proposto pelo deputado Rangel. Em lugar de oferecer expectativas oferecem o negrume da desesperança. Mas de forma científica e organizada.

Neste discurso, aparentemente, esta gente não se apercebe da dimensão humana do problema nem da compaixão que seria o registo discursivo adequado em lugar de uma avaliação alegadamente racional que fazem com uma frieza que chega a ser gélida.
Mas o pior, e neste campo nem sequer parece existir nos inúmeros conselheiros e spin doctors alguém que tenha um módico de razoabilidade, seria pedir demais que tivessem um espírito cristão e inteligência, para ver da violência emocional e psicológica destas afirmações. Que quem é ministro ou primeiro ou segundo ou ajudante não pode não deve produzir barbaridades destas. Por muito racionais que sejam . Puta que pariu. Desde quando existe uma merda chamada "realidade objectiva"?

Não só empurram as pessoas para fora da sua terra, escorraçam será o termo preferível, mas até se apropriam do "mérito" da decisão! O processo de partir daqui para fora é um processo sofrido que comporta a angústia da quebra dos laços com o passado e com os afectos, com as raízes e com as referências e com os símbolos. É um processo de dissonância terrível. É um processo amargo e revoltante. É um sofrimento individual. É um vencer de inércias e medos. Não é uma aventura seus cabrões. Não é épico nem desafiante. Para a esmagadora maioria das pessoas é uma incerteza que comporta ansiedade sem fim. É uma decisão que se toma em face do beco sem saída a que se chega no nosso sítio, na nossa terra. Um dia percebemos que temos de partir. Que não há nada para nós aqui. Que o nosso país é uma merda. Que nós deixámos que ficasse uma merda. Onde é que nós nos distraímos e perdemos o rumo? Onde é que cedemos?

Mas aqui estamos a ser escorraçados. E até o sofrimento nos é negado. Até a angústia nos é expoliada. Para quem quer liquidar o Estado até aqui mete o Estado a ser "dono" das hesitações e dos choros de separação e das expectativas dos que querem ver daqui pra fora. Pra quem tudo é decisão individual. Escolha racional. Até aqui querem reduzir quem parte a objecto de paternalismo do Estado. Até na hora de compreendermos nem tempo temos, outros "melhores" que nós "ajudam-nos" a compreender que devemos temos de ir embora.

Há uma diferença fundamental entre fazer o luto da saída e ser empurrado. Quem não entende isto nem pai de filhos devia ser. Fodaçe.

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