domingo, dezembro 16, 2012

Admitamos que sim

para efeitos de debate. Que a austeridade é uma espécie de purga salutar que limpa o mau tecido social. Político, económico, empresarial. Este empobrecimento é um mero side effect. Depois disso as pessoas, que sobreviverem, adaptam-se a novas regras, nomeadamente a sua ausência. Das ditas regras. Admitamos que a agenda de Washington entre nós nos "curaria" de séculos de dependência do "pai". Do omnipresente, opulento majestático e napoleónico "Estado" . Eu até nem discordo na totalidade. Há áreas em que o Estado nunca deveria ter entrado. Imiscui-se em assuntos que são da sua esfera mas sim da do indivíduo. Das famílias. Dos condóminos. Dos bairros. Das empresas. Da livre iniciativa. Que o crescimento do Estado à conta da narrativa da solidariedade veio a degenerar no abuso. Na autocracia. No favorecimento parasitário de amigos. Na construção de teias entre interesses privados que assaltaram e o tornaram refém. Que em todo o lado parece ser assim. Mesmo nas pátrias mais organizadas do Norte o "Estado" acaba a fazer favores a amigalhaços embora a coisa seja mais discreta e disfarçada. Portanto, o consenso de Washington; desregular tudo, privatizar tudo e formar os preços todos no mercado, deixar toda a gente à sua sorte, seria a panaceia final. Que depois do brutal choque que isso causará  a populações habituadas justamente ao contrário seria benéfico e daí resultaria um novo país pulsante e virtuoso. Prenhe de livre iniciativa libertadas forças de inovação que jazem em bolsas oprimidas pelo corporativismo sindical e patronal anquilosado, serôdio de antanho. Por ideologias igualitárias que só geram mediocridade.

E depois? Quando toda a criatividade se soltar no mercado, finalmente livre? Quando a oferta de novidades florescer e os consumidores forem inundados pela boa nova da escolha livre?

Depois os seres humanos começam laboriosamente a "corrigir" a ausência de regras do e no mercado. Começam a fazer cartéis e a relembrar aos políticos que tem de arranjar maneira de voltar a transferir riqueza através do pipeline do orçamento. Surgem novas Halliburton, Betchel, Boeing... que nunca quiseram o mercado mas sempre se deram bem com a plutocracia, com a autocracia mascarada de escolhas eleitorais. Os banksters reorganizam os velhos impérios que nunca foram desfeitos. E o people terá de voltar a descobrir o mutualismo e o sindicalismo.

E um dia talvez daqui a muitos séculos teremos de encontrar um ponto de equilíbrio entre segurança e iniciativa, entre risco e prudência entre o indivíduo e a comunidade. Uma coisa é certa, na ausência de regras, no triunfo do cenário de Washington, a única coisa que daí sairá é uma nova descoberta que a utopia de Moro é um pesadelo e que a utopia da hipótese da eficiência do mercado é uma ilusão idiota.

No final caminhamos para o monopólio ou para o cartel. Ou para a ditadura de iluminados sobre todos. Em qualquer dos casos a ineficiência e o sofrimento esperam-nos ao virar da esquina.

Ou então aguentamos a dialética até ao fim dos tempos.




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