Por causa da crise (recessão, forte abrandamento, depressão...continuamos sem palavra consensual que encapsule o colapso à nossa volta... e, portanto sem a tranquilidade que comporta ter um nome para a “besta”....) (re)começam a defrontar-se as escolas económicas. Pensava-se que com o chamado consenso de Washington (desregular, privatizar e deixar o mercado formar todos os preços acabando com os preços políticos e administrativos) o Estado iria, de cura em cura, emagrecer com ou sem dietas com aloé vera...
Afinal não. Parece que o famigerado Estado é como um gato de sete vidas (ou mais...) e regressará para relançar a economia ou esmagar a iniciativa privada, conforme o lado da barricada em que nos coloquemos. O horror que alguns descobrem, é o regresso do “socialismo” em particular na sua forma “keynesiana”. Eu, realmente, nunca tinha dado pela partida do dito, avisam-me agora do seu regresso. Nos Estados Unidos, por exemplo, nos últimos anos houve um excelente “keynesianismo” que, alegadamente, fez prosperar umas empresas que utilizavam a curiosa técnica de custos mais margem para facturar ao “Estado” as obras que faziam e, que em boa medida, eram decididas pelas empresas que as faziam, uma vez que não existiam concursos, nem propostas, nem nenhuma dessas maçadas que pelo menos permitem simular o funcionamento do mercado de concorrência perfeita, que existirá algures no sistema Solar. Este excelente impulso (que Schumpeter não desdenharia) deu origem a um novo paradigma técnico-económico. A novíssima “industria” da “Homeland Security” que fez da Betchel, da Boeing, da Blackwater, da Halliburton, empresas envolvidas em negócios algo distantes do seu “core business” mas em venturosos ondas de facturação, no Iraque ou no mercado doméstico. O caso da Boeing, e do seu sistema electrónico e de satélites para controlo de fronteiras (no teste é a do Canadá, sitio de onde provêm ameaças consideráveis...) tem sido, aliás, motivo de grande entusiasmo, tanto que já são vários biliões de dólares que ninguém consegue realmente justificar onde e como foram gastos segundo os insuspeitos Economist e Financial Times. Pena que esquilos, coelhos e alces façam disparar os alarmes para dar origem a possíveis operações de neutralização de invasores com F16 e demais aparato de resposta rápida....
Em todo o caso, os “offsprings” para a segurança privada de mansões e condomínios foi frutuosa. Com inovadores produtos como os “panic rooms”, dentro dos quais os proprietários podem controlar por computador o que se passa nas outras divisões da casa e escolher libertar gás mostarda ou gás lacrimogéneo para neutralizar os “invasores”. Desconheço se com estes produtos vem incluído um psiquiatra gratuito...
Mas agora, em face da crise cuja poeira ainda estará longe de assentar, assistiremos a debates entre os que insistirão na bondade da teoria de remover definitivamente o Estado e os que aconselharão o retorno de mais Estado. Como relançar o consumo privado que ameaça colapsar num mar de despedimentos? Como relançar a actividade económica se os bancos não arriscam emprestar às empresas? Como financiar projectos estruturais se desapareceram uns míseros triliões de dólares no buraco negro das bolsas e ainda não se conseguiu estancar a sangria? Receio que uns e outros se percam num folclore retórico de idiotas úteis. Eu temo que estejamos à beira de um tempo inovador. Realmente novo. Em que plutocratas e oligarcas se unam, ainda mais, e nos “acostumem” a um simulacro confortável de democracia. A troco da “estabilidade”, da “segurança”, que nos será concedida por políticos e banqueiros, nestes tempos tão “complexos” de veículos financeiros imperscrutáveis, muitos de nós cederemos a “liberdade” de dizer não obrigado, da próxima vez que nos oferecerem a possibilidade de nos candidatarmos ao sorteio de um computador baratinho bastando para tal cantarmos uma cantilena e regressarmos à época em que o comportamento infantil era natural...
publicado no Diário Económico
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