terça-feira, setembro 06, 2011

A insustentável e pesada tolice do faz de conta

Com o decorrer dos anos, acentua-se a baixa de tolerância para com o faz de conta com que lidamos, mas que todos fingimos não existir nem ter consequências. O faz de conta, contudo, tornou-se floreado, sofisticado, sistematizado, organizado. É um faz de conta reificado. Um faz de conta cada vez mais envolto em processualismos e actividades de tal modo complexas que quase o disfarça e camufla. Mas a substância, a essência da coisa não muda porque a embalagem se torna mais bonita. Ou mais exuberante. Hilariante, ao longo destes tempos que tem corrido, e em cúmulo, é que cada vez recebemos menos para fingir não ver o faz de conta que cada vez nos ocupa mais tempo. Isto é, a maior parte da profissão hoje passas-se na dimensão de um faz de conta e cada vez mais fazemos o faz de conta mais barato e mais mirambolante.

O faz de conta, no ensino, é como uma imensa bolha financeira. Sabemos que um dia nos rebentará no focinho, mas enquanto dura parecemos todos alegremente sugados para uma actividade acéfala de ultra optimismo em que fazemos de conta que a coisa é imparável. Desta vez é imparável. Nunca é. O faz de conta que ensinamos e que resmas de alunos fazem de conta que aprendem em regime de quase tutoria individual, em salas com centenas de outros como eles e, em que é impossível vir a conhecer o apelido de dois décimos deles, é um delírio permitido pela quantidade de papel e relatórios e métodos e aferições que afogam o processo que finalmente fica submergido debaixo de tanta formalidade que parece mesmo ter existido aquilo que fica explícito e descrito com um detalhe fabuloso nos papéis. É justo porque no final um papel prova ao aluno e à sociedade sequiosa de papéis que atestem coisas que a coisa existiu mesmo e que o aluno preencheu aqueles passos detalhados.

Até ao dia em que o aluno tenha de executar qualquer coisa fora do papel.

4 comentários:

Eric Blair disse...

este teu texto vai cair amanhã em cima de uma mesa de reunião de determinado conselho técnico-científico ...

Rebel disse...

Mais um que vai para a rua!

Eric Blair disse...

ah ah ah ah

Piotr Kropotkine disse...

e já fosteze? :D