quinta-feira, fevereiro 01, 2018

o Paradoxo da Participação (II) ... o corolário da infantilização

Uma das consequências deste processo de concentração da população nos extremos do discurso público é a de que o nível de agressão se torna demasiado insuportável e, naturalmente, as pessoas refugiam-se no "conforto" dos seus grupos, local onde encontram a reafirmação da bondade das suas crenças, dos seus preconceitos, das suas narrativas e do seus sistema de valores.



O paradoxo emerge de novo sob formas deliciosamente surpreendente.  Em face dos níveis de agressão altos, uma boa parte das pessoas em lugar de crescerem para o confronto tentam proibi-lo e regridem para modos de comportamento totalmente infantis. O que é ainda mais espantoso é que este processo é, por enquanto, muito visível num dos espectros da arrumação social, justamente aquele que "historicamente" deveria comportar a combatividade até porque frequentemente se assume como defensor de um determinismo histórico cuja "inevitabilidade" deveria conduzir à vitória como categoria Hegeliana.

Portanto, o espaço publico torna-se uma arena protegida em que não só existe refugio nas certezas confortáveis do próprio grupo como existe um grande esforço para que o "outro" grupo não tenha a possibilidade de se dirigir aos outros que não os seus. A questão que emerge é que não se trata apenas de censurar o "impronunciável". O discurso abjecto da negação total do outro. Ou o discurso de incentivo à eliminação do outro. Ou o discurso da intolerância total. A questão é que o "impronunciável" se estendeu a todo o discurso diferente do "nosso". Todo o discurso mesmo ligeiramente de dissensão do meu é "impronunciável" e deve ser liminarmente proibido. O que torna a conversa além de inexistente, impossível e mesmo nunca desejável.

E, em face desta situação exibem-se comportamentos absolutamente perplexos. A distribuição de ursinhos de peluche. Em face de palavras "impronunciáveis", de circunstâncias e eventos "impronunciáveis" (todos os que nos afligem) uma parte da sociedade corre para sítios onde alegadamente é proibida...  a realidade. E onde todos tem direito a "amigos" imaginários e de peluche como quando estavam na infância.


1 comentário:

Piotr Kropotkine disse...

e entre o puritanismo pré vitoriano e a infantilidade mais patética colapsamos para paradoxos cada vez mais fascinantes .... ou em nome deus ou em nome da seta da história ou em nome do povo ou em nome da eficiência do mercado ou em nome da revisão da história ou em nome da correcção de todas as imperfeições exibidas no passado ou em nome do amanhã radioso ou em nome da classe que porta o futuro ou em nome do género que porta o futuro ou em nome do futuro a inevitabilidade cai sobre os outros qual espada de damocles presa por um fio invisível mas nunca sobre nós ...