sexta-feira, janeiro 05, 2007

O Paradigma

Devo desde já confessar que li em três segundos ou eventualmente quatro. Dificilmente a expressão "chutar para canto" encontra melhor ilustração, e, claro que a representante do colégio de psiquaitria dificilmente podia chutar para golo em qualquer das balizas...

Em todo o caso não há doutrina sobre esta questão. Na biblia da psiquiatria uma coisa chamada DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da American Psychiatric Association não há lá nada que se refira, especificamente, a sofrimento por rejeição de uma gravidez. E, é óbvio que estas coisas não são de cariz grupal. Não há lugar aqui para molhadas sociológicas...

Seria de esperar que "cada caso é um caso" fosse expressão dominante numa questão destas. Em psiquiatria não se faz uma análise ao sangue e vem lá o tamanho da "neurose" ou da "paranóia" ou do "sofrimento psíquico"... sobretudo em coisas nunca tipificadas ....

Como exercício de jornalismo pode bem ser louvável a atitude...como contributo para o debate é pouco mais que inútil. Em Espanha aparentemente utilizam aquela "porta" para resolver de forma pseudo científica o problema e contornar a fricção ideológica, evitando o triste espectáculo e a violência da exposição pública das mulheres apanhadas a abortar. Se um psiquiatra disser que "esta mulher em concreto está num sofrimento inultrapassável porque rejeita a criança que tem no útero", até por corporativismo, dificilmente, outro psiquiatra virá dizer "não senhora, essa mulher em concreto está a fingir", a não ser por preconceito ideológico. Não há TAC ne raio X nem análise às enzimas que permita medir a coisa. Trazer os psiquiatras não ajuda em nada nem um lado nem outro. Trazer os geneticistas idem. Trazer os bioquímicos idem. Trazer os advogados idem.

E os argumentos, muitas vezes, de um lado e de outro, são mesmo patéticos. E por vezes muito desonestos. Mas é assim a natureza humana, neste e noutros assuntos. A escolha é sobretudo politica e civilizacional. Tem a ver com a ideia de sociedade e de forma de relação que queremos ter. Por isso é que vai votar pouca gente. Porque a maior parte da malta quer ver a novela das sete e sabe lá que tipo de sociedade é que quer...

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